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7 dificuldades que pais estão enfrentando no ensino em casa das crianças

Meu filho só chora e não quer fazer as atividades. E agora? Devo priorizar a rotina da casa ou os conteúdos da escola? Esses e outros dilemas respondidos!

Por Flávia Antunes
Atualizado em 14 Maio 2020, 15h52 - Publicado em 14 Maio 2020, 15h12

Com as aulas suspensas por conta do novo coronavírus, as escolinhas de educação infantil estão adotando algumas estratégias para manter as crianças em atividade, como aulas online curtas, chamadas de vídeo com os professores e brincadeiras que estimulem habilidades específicas.

No entanto, diferente dos mais velhos, os pequenos em idade pré-escolar não possuem uma grade curricular tão restrita quanto os que já estão em alfabetização e podem estranhar as aulas à distância durante a quarentena. O resultado? Pode ser que o baixinho não entenda – ou não aceite – as propostas educativas e os pais não saibam muito bem como agir diante desta situação nova.

Pensando nisso, e para facilitar a vida das famílias com filhos mais novos, consultamos especialistas para sanar as principais dúvidas sobre esta dinâmica escolar inédita em casa. O que fazer caso a criança não se concentre, como agir se a programação não estiver sendo produtiva e muitas outras perguntas que estão tirando o sono dos pais. Confere só:

Meu filho não para quieto na frente da câmera. O que devo fazer?

Aqui, um fator que deve ser levado em conta é que o tempo de concentração das crianças pré-escolares é menor, como adianta Bruna Vitorino, pedagoga e coordenadora pedagógica do Kumon. Por isso, a dica dela é que os pais organizem intervalos entre as atividades que exijam ficar na frente do computador, para que os pequenos fiquem mais dispostos para interagir com o professor quando necessário.

Bruna afirma que o ideal seriam atividades com música, vídeos e outros recursos atrativos, mas que – por ser um momento novo – não podemos exigir tanto das instituições, que ainda estão se organizando. “A escola ainda não teve tempo para se munir e preparar conteúdos que prendam tanto a atenção da criança. Estamos em um momento transitório e que, aos poucos, vamos conseguir nos adaptar”, diz ela.

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Assim, ela aconselha que os adultos tentem aumentar gradualmente o tempo de concentração das crianças, mas sem se culpabilizarem caso o resultado não seja satisfatório. “Um dia o filho pode conseguir prestar atenção por 15 minutos, no próximo 20, e por aí vai”.

“Temos que entender que não é natural para a criança pré-escolar que fique mais de 30 minutos ou uma hora de frente para a tela. Então é importante que não haja uma cobrança excessiva – nem da escola e nem dos pais – e que não se culpem, porque a criança está agindo naturalmente”, acrescenta.

E quando as aulas interferem em outros horários da rotina da casa? O que devo priorizar?

O primeiro passo fundamental, de acordo com Bruna, é que a família procure organizar um cronograma de atividades, que pode ser atualizado de um dia para o outro, semanalmente ou conforme acharem melhor. “A escola deve passar uma agenda e os pais devem analisar, de acordo com a rotina de trabalho deles, como encaixar as atividades escolares”, aconselha.

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Além de ajudar na organização dos adultos, estabelecer uma programação traz segurança e regularidade para os baixinhos – sendo elementos importantes até mesmo para a saúde mental deles e dos pais. “As tarefas da escola e os encontros virtuais podem fazer parte dessa rotina, pois é importante que de alguma forma a criança mantenha o vínculo com os professores e os colegas”, afirma Beatriz Abuchaim, psicóloga, educadora e gerente de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

“Mas busque executar de forma muito natural e respeitando o ritmo da criança. A atividade precisa ser prazerosa, e não uma obrigação”, ressalta ela.

E se os horários coincidirem? Segundo a coordenadora pedagógica, a palavra-chave é negociação – tanto com a escola quanto com o trabalho. “A situação exige flexibilidade de ambas as partes e planejamento. Uma ideia é já deixar as refeições pré-preparadas, para que o dia a dia flua naturalmente e não seja uma sobrecarga ainda maior neste momento que já está sendo desafiador”, diz.

Meu filho não gosta das aulas e só chora. E agora?

Sem os colegas de turma, com as mudanças na rotina e tendo que dividir a atenção dos pais com o trabalho, é normal que comportamentos como esse aconteçam. Para contornar, Bruna indica que os adultos tentem associar o momento da atividade da escola com uma sensação prazerosa.

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Antes de fazer a tarefa, proponha algo que a criança goste – uma brincadeira, uma historinha, uma dança, etc. Isso vai gerar um estado de humor favorável para a hora da atividade escolar”, explica ela.

Além disso, Beatriz põe em questão as origens deste choro. “Pode ser uma manifestação de medo, insegurança, tensão…”, supõe. “Tente conversar para entender o que está acontecendo. E o mais importante: não force nada agora. As crianças estão mais sensíveis e precisam de acolhimento neste momento”, afirma. 

A educadora ainda tranquiliza os pais, esclarecendo que as aulas virtuais não são a única possibilidade de estímulo para os pequenos. “Sabemos que as experiências concretas, com possibilidade de interações, são muito mais efetivas do que o contato virtual. Portanto, se ele não está interessado na aula, chame-o para montar um quebra-cabeça com você, conte uma história, montem juntos uma cabana. Certamente será prazeroso para ele e, consequentemente, relevante para o seu desenvolvimento”, conclui.

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Devo aceitar que a criança não estará disposta todos os dias para as aulas online?

Claro que o ideal é que os pais tentem que as crianças façam o que está sendo proposto. “Porém, neste momento tão difícil, não podemos obrigar que elas cumpram 100% daquilo que, em um ambiente escolar, motivadas pelo colegas de classe, seria mais fácil de realizar”, diz Bruna.

Por isso, a pedagoga recomenda que, em vez de impor que os filhos sigam com a atividade, os pais observem em que horários os pequenos estão mais calmos e propícios a aceitarem as aulas. “Pode ser de manhã, assim que acordar, ou depois de um banho, por exemplo”, afirma ela.

Vão ter momentos que a criança realmente não está afim, e é muito difícil forçá-la a algo que não queira – até porque isso vai gerar uma impressão negativa daquela tarefa”, alerta Bruna.

Novamente, como explica a psicóloga, o mais importante para o desenvolvimento da criança neste momento – mais do que fazer todas as atividades e estar presente nos encontros promovidos pela escola – é que ela receba carinho, atenção e que os adultos que a cercam estejam disponíveis de alguma forma para interagir, brincar e acolher.

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Meu filho não faz as atividades propostas e não estou achando produtivo. Devo tirá-lo da escola?

“Certamente as crianças estão fazendo menos do que faziam antes e isso não significa que não estejam sendo produtivas”, esclarece Beatriz. Ela também aponta que, além do papel de propor conteúdos, as instituições podem funcionar como um suporte para as famílias, ajudando-as a enfrentarem o desafio de conviverem 24 horas por dia com as crianças em casa.

Sobre o processo burocrático, a avaliação deve ser feita caso a caso. “Se não está conseguindo seguir com as atividades, é bom conversar com os professores e com o coordenador da escola para que, juntos, tentem buscar uma alternativa e pensem no melhor para cada criança”, propõe Bruna. “Não acho que seja hora de tirar do curso. Por mais que não saia como o esperado, nenhum pai precisa assumir o papel de professor“, acrescenta.

Faz diferença se meu filho fizer ou não as atividades encaminhadas pela escola?

Como Beatriz já explicou, as atividades são importantes para que os pequenos mantenham os vínculos com os colegas e professores, além de servirem de instrumento para exercitar habilidades específicas, que estariam sendo desenvolvidas em sala de aula.

Caso a dinâmica realmente não esteja funcionando, Bruna propõe como alternativa que os adultos conversem com o educador e entendam o que está sendo trabalhado naquela faixa etária. “Por exemplo, se estão exercitando a coordenação motora, que os pais façam brincadeiras que estimulem os filhos neste sentido.  Às vezes eles não vão fazer tudo o que está sendo proposto, mas deixe sempre disponível papel, giz de cera, lápis de cor e outros utensílios que desenvolvam a competência particular”, finaliza ela.

Nos tempos livres, posso deixar a criança brincando livremente ou deveria estar fazendo algo para estimulá-la?

Mais uma vez, a pedagoga ressalta que não é hora de os pais se pressionarem para estarem o tempo todo propondo atividades com os filhos. “Eles já estão aprendendo com a nova dinâmica e com tudo o que está no entorno. Fazendo o papel de pais, brincando e acolhendo às demandas, já estão ensinando muito”, assegura ela.

A afirmação de Beatriz caminha no mesmo sentido, ressaltando o papel do ambiente para enriquecer o repertório do pequeno. “O desenvolvimento da criança se dá pela maneira como ela se relaciona com tudo que está a sua volta. Falar, cantar, brincar e ler são alguns dos estímulos importantes. Portanto, tudo o que a criança está vivendo neste momento, em casa, com a família, é aprendizado. Lidar com a saudade dos avós e dos colegas, descobrir novas formas de aprender… Tudo isso será um aprendizado e tanto”. 

(Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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