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Sono do bebê: tudo o que você precisa saber sobre o assunto

Treinamento de sono, tempo de tela, higiene de sono… Entenda o que funciona ou não para devolver a paz ao lar

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 22 jan 2021, 16h09 - Publicado em 26 jun 2019, 15h20

Em junho de 2019, a apresentadora Rafa Brites publicou em seu Instagram um relato sobre as dificuldades que seu filho Rocco, 2 anos, enfrenta para dormir. Em 24 horas, ela recebeu mais de 13 mil dicas de outros pais e reuniu em seus stories as que funcionaram. Entre elas, fazer um ritual de sono, tomar chá de camomila e tirar as telas da mão do pequeno algumas horas antes de ir para a cama. 

Rafa não está sozinha. Como o padrão de sono muda no decorrer da infância e depende de fatores ambientais, comportamentais e de saúde, é comum que os pais acabem passando por fases de privação de sono. A atriz Sheron Menezzes também desabafou sobre o assunto ano passado

Lidar com o assunto é difícil, mas não impossível. “Uma das principais coisas que temos que fazer é alinhar expectativas, entender que é uma fase cansativa e como funciona o ciclo de sono do bebê, que é completamente diferente do adulto”, diz Thiago Queiroz, educador parental e criador do Paizinho, vírgula!, pai de Dante, 6, Gael, 4, e Maya, 7 meses.

Veja abaixo algumas coisas que você precisa saber sobre esse período. 

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O sono não é uma constante 

Bebês têm um sono polifásico, isto é, mais curto que o dos adultos. Por isso, eles passam o dia e a noite acordando. E, assim como os mais velhos, cada um tem seu ritmo: alguns são mais dorminhocos, outros menos. Também não dá para cravar quando o filho passará para os ciclos mais longos de sono ou aprenderá a voltar a dormir depois de um despertar sozinho. Mesmo que ele durma bem, alguns acontecimentos podem alterar o seu sono, como saltos de desenvolvimento, eventos estressantes e mudanças na rotina. 

Você não precisa deixar o bebê chorando

Cansados, os pais podem recorrer a treinamentos do sono com métodos que pedem que o bebê fique chorando ou atrasem a assistência ele. Só que essas práticas não são nada confortáveis para mãe ou bebês. “O choro é um pedido de ajuda, é preciso atendê-lo”, comenta Beatriz Kesselring, enfermeira obstetra e educadora do sono pelo FWII (Family Wellness integrative Institute), fundadora do Núcleo Cuidar.  

Nos primeiros três meses, o bebê vive uma relação quase simbiótica com a mãe, e nenhuma intervenção no sono é recomendada. Vale ninar, dormir no peito e embalar no sling. Por volta dos cinco, dá para começar a estimular a independência do bebê de maneira gradual, sem mudanças bruscas. “Por exemplo, os pais podem levantar, sem pressa, verificar se é a temperatura do quarto, fome ou necessidade de trocar fralda, resolver o problema, confortar o bebê e colocá-lo de volta para dormir de preferência ainda sonolento”, ensina a enfermeira.

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“É preciso avaliar o motivo das lágrimas, mas se ele estiver chorando por um breve despertar, deve ser encorajado a voltar a dormir sozinho”, aponta Regina Terse, pediatra do Departamento de Medicina do Sono da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

O peito e o colo como bengalas do sono

O problema apontado pelos pediatras em embalar ou amamentar o bebê até que ele apague de novo é que ele pode acabar dependendo disso para adormecer. “Se aquela criança aprendeu a adormecer no colo dos pais, com mamadeira, peito ou chupeta, quando ela desperta a noite, o que é natural, vai precisar daquele mesmo estímulo para voltar ao sono”, aponta Renatha El Rafihi Ferreira, psicóloga com pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e colaboradora do Ambulatório do Sono do Hospital das Clínicas da instituição.  

O tema é polêmico. “Meus filhos sempre fizeram isso e hoje não precisam de peito para dormir”, afirma o educador parental. Quando a fase de aleitamento exclusivo acaba, aos seis meses, a tendência é que as mamadas noturnas reduzam, mas o bebê ainda pode precisar do peito como medida de consolo. “Acho cruel não oferecer o seio, mesmo que o bebê esteja precisando dele apenas para conforto”, completa Beatriz. 

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Um meio termo pode ser oferecer a mama ou o colo, mas devolver o filho ao berço antes que ele adormeça de vez e ir aos poucos estimulando a independência. Outra tática é usar a presença física ao invés do colo em si: o toque, a voz. No fim das contas, a régua para qualquer mudança é o conforto dos pais e do bebê. “A mãe tem que tirar do peito, sair correndo, embalar e colocar no berço ainda acordado, isso nem sempre funciona e pode gerar angústia nos pais”, comenta Thiago. O bebê precisa que os pais estejam bem emocionalmente para que ele também aprenda a regular suas emoções. 

“Se eles estiverem tranquilos acordando quando o bebê precisa, tudo bem, mas se estiver péssimo para eles, temos que pensar em como conseguir equilibrar as coisas”, ensina Beatriz. Entra aí o papel da consultoria do sono e dos psicólogos (fuja dos treinadores), mas sempre tomando cuidado com os que prometem milagres do tipo fazer um bebê de meses dormir 8 horas seguidas, o que vai contra a natureza dos pequenos. 

A higiene do sono

Por volta dos seis meses — e até antes, mas aí mais como ensaio do que como regra — dá para começar a colocar em prática a higiene do sono, conjunto de medidas que melhoram o descanso. Estabeleça um ritual para relaxar o filho antes de ir para a cama. Vale dar um banho quentinho (se a criança não ficar agitada depois), reduzir as luzes da casa, os barulhos, fazer massagens, cantar, oferecer chás de camomila a partir dos seis meses e fazer brincadeiras com pouca movimentação e muita proximidade. 

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Independente das atividades escolhidas, o mais importante é que elas sejam rotina e aconteçam sempre no mesmo horário. Exceções, como os pais que trabalham tarde e acabam atrasando o sono dos filhos, podem custar a quebra do padrão e provocar um sono ruim. A regra vale para o resto do dia na verdade: quanto mais estável o cotidiano da criança, mais segurança ela tem para dormir tranquila. 

Tirar as telas 

Outra tática adotada por Rafa Brites que é super recomendada pelos médicos e psicólogos. A luz artificial emitida pelas telas, dos celulares ou da televisão, atrapalha a produção da melatonina, o hormônio indutor do sono. Desenhos violentos ou muito agitados podem ainda provocar pesadelos ou estimular os pequenos, dificultando o relaxamento que deveria acontecer no período. 

O ideal é desligar desenhos e jogos e escurecer o ambiente pelo menos uma hora antes de dormir — o contato com a luz natural ajuda o relógio biológico a entrar no ritmo certo. Lembrando que, no primeiro ano de vida, os filhos não devem ter contato com as telas eletrônicas, segundo a Organização Mundial de Saúde.  

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Cuidado com o ambiente

Nos primeiros três meses, é ideal que o bebê durma em um ambiente tranquilo, no quarto dos pais, mas não na mesma cama, prática desaconselhada por conta do risco de sufocamento e de morte súbita infantil. “Nessa fase, os barulhos da casa e a voz da mãe ajudam a simular a acústica uterina”, explica Beatriz. 

O quarto compartilhado ajuda a reduzir o risco de acidentes além de trazer mais tranquilidade aos pais pela proximidade. Ele pode ser feito até o primeiro ano de vida, mas o ideal é que a transição para o quarto próprio comece aos seis meses, pois depois dessa idade fica mais difícil fazer a separação.

O quarto do filho é sagrado. Usá-lo como local de castigo (ou ir dormir mais cedo como punição) não só tira a vontade da criança de descansar como pode acabar com a imagem que ela tem do cômodo. O quarto deve ser um ambiente de relaxamento e a cama, bem aconchegante — daí a ideia de colocar mais travesseiros sugerida pelos fãs da apresentadora. Essa tática deve ser usada depois do primeiro ano de vida. Antes disso, é perigoso deixar lençóis, travesseiros e bichinhos no berço por conta do risco de sufocamento. 

Acima de tudo, as crianças precisam ver o sono como uma atividade prazerosa e, para isso, toda a família deve agir em conjunto e respeitar seus próprios hábitos, sem culpas ou forçação de barra. 

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