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O que é preciso fazer para que a internet seja segura para as crianças?

Ainda que o uso de telas tenha auxiliado muitos pais e filhos durante a quarentena, é preciso redobrar o uso de ferramentas para privacidade e segurança.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 10 ago 2021, 10h44 - Publicado em 28 Maio 2020, 12h46

Com o incentivo para que as pessoas fiquem em casa com o intuito de reduzir a curva de contaminação pelo novo coronavírus, a internet tem sido uma ferramenta importante para famílias ficarem próximas umas das outras mesmo de longe, saber informações relevantes e, para as crianças, uma portinha para continuar em contato com o ambiente escolar.

Só que além dos estudos em si, sabemos que recorrer ao mundo virtual também tem sido uma saída para pais conseguirem colocar em prática suas atividades particulares, como trabalhar. E, neste momento, é importante colocar o autojulgamento um pouquinho de lado, afinal, estamos vivendo uma realidade totalmente diferente da que estávamos acostumados.

Mas o que não podemos abrir mão é da segurança dos pequenos, que podem não estar expostos fisicamente à doença ou outros perigos do mundo real, mas acabam ficando mais suscetíveis no virtual. Isso acontece com ameaças como o cyberbullying, conteúdos impróprios, assédio ou mesmo contato com supostos personagens que podem incitar a atos perigosos, como a boneca Momo e mais recente, o Homem Pateta – personagem inspirado no personagem da Disney, que espalha mensagens de medo e até incentivaria crianças ao suicídio.

Pensando nisso, mapeamos com a ajuda da presidente da Childhood Brasil, Roberta Rivellino, cinco dicas primordiais para que a internet seja um ambiente seguro para as crianças. 

1. Os recursos de segurança estão ativados?

O primeiro alerta feito pela representante é de que os pais acompanhem de perto o que os filhos estão acessando na web. Se ela já for alfabetizada e conseguir fazer buscas sozinha, vale também conferir o histórico de pesquisas para entender o que está procurando. Mas o primordial é checar se as ferramentes de segurança e privacidade estão ativadas em cada uma das plataformas que os pequenos têm acesso.

No site da SaferNet Brasil, entidade de referência nacional para a proteção dos Direitos Humanos na Internet, eles indicam pela priorização de aplicativos desenvolvidos especificamente para o público infantil – como o YouTube Kids, o Messenger Kids para enviar mensagens ou fazer ligações gratuitamente para tablet e/ou smartphones, e ainda o Family Kids, um aplicativo do Google, para estabelecer regras digitais a fim de que o uso virtual seja saudável.

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2. Atenção ao jeito que a criança usa as telas

Ainda que o uso de aparelhos tecnológicos tenha aumentado durante a quarentena, é importante que os pais tenham intervalos de tempo estipulados para o uso. Desse jeito, fica mais fácil de controlar o conteúdo que está sendo acessado, já que a atenção está voltada para aquela tarefa.

Neste momento, Roberta aconselha os pais a repararem em como os filhos estão manuseando os dispositivos. “Fique de olho para ver se a criança não está querendo usar o tablet, ou computador ou celular escondidos, para que ninguém veja o que ela está acessando”.

Esse comportamento pede para que os pais questionem se o teor do que está sendo acessado pelos filhos está dentro do esperado ou até mesmo adequado para o público infantil. Outra atitude também apontada pela especialista é sobre mudanças bruscas da personalidade das crianças.

Com o isolamento social, alguns pais têm relatado que estão percebendo o comportamento dos filhos regredirem  – isto é, voltando a ter reações semelhantes a de quando eram mais novos ou estão até mesmo mais relutantes no dia a dia. Entretanto, se os pais perceberem que tais atitudes estão relacionadas ao uso da internet, é preciso atenção.

“Por exemplo, se a criança é tímida e começa a ficar muito extrovertida, está com brincadeiras sexualizadas ou o contrário, está muito retraída, escondendo alguma coisa, são sinais de alerta”, explica Roberta.

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Ainda para as que estão tendo aulas virtualmente, é importante que os pais estejam em contato constante com as escolas. Isso permite com que eles tenham controle do que está realmente sendo enviado para os filhos e evite fraudes com links mentirosos, por exemplo.

3. Tenha um diálogo aberto sobre internet

Mesmo que a criança seja nova e tenha limitações para entender a complexidade do que os pais estão falando, Roberta alerta que é fundamental criar um ambiente em que os pequenos sintam-se confiantes em relatar o que está deixando-os desconfortáveis com o uso da internet.

Uma das formas de desenvolver isso é lembrando-os de que os perigos do mundo real também estão no virtual. Atente-se a dizer à criança que ela não deve responder a perguntas pessoais, e reforce que endereços, fotos ou links não devem ser compartilhados.

“O aliciamento (o ato de atrair) crianças e/ou adolescentes acontecem em diversas plataformas, isto é, a aproximação com esse grupo pode ser com a intencionalidade de tirar fotos com conteúdos sexuais ou mais sexualizadas, puxar para movimentos extremistas e instigar a violência”, reforça Roberta. Por isso, o alerta é claro: um estranho pode parecer amigo na internet, mas é preciso cuidado redobrado neste cenário.

4. Busque ajuda em materiais de apoio

Para as crianças menores, os recursos lúdicos são ótimos para ajudá-las a entender com mais facilidade assuntos que são difíceis para o momento, como a percepção das consequências negativas de compartilhas informações pessoais na internet.

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E, mais do que isso, eles ajudam a dar passos anteriores ao assunto para que elas possam entender que o seu corpo não pode ser encostado por ninguém além do pai ou da mãe, nos momentos de higiene e cuidados.

Uma das opções para começar a abordar essa diferença entre público e privado é com a série “Que Corpo é Esse?”, lançada em 2018 pelo Canal Futura em parceria com a Childhood Brasil, Unicef Brasil e a Fundação Vale.

Em cada episódio, eles debatem sobre “conhecimento do próprio corpo, a importância da autoproteção e do respeito ao direito à sexualidade”, como é explicado no site da Childhood Brasil

 

Já para os baixinhos que aprendem melhor com uma boa leitura, alguns livros infantis também têm o cuidado de abordar a temática de invasão da privacidade tanto do corpo físico quanto virtualmente.

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Um título popular sobre o assunto é o “Não me toca, seu boboca”, da autora Andrea Viviana Taubman, em que Ritoca e seus amigos precisam fugir de um tio que parece bonzinho no começo, mas transforma-se em um verdadeiro perigo para elas.

“Pipo e Fifi” também é outra opção para ensinar os baixinhos sobre as diferenças dos toques amorosos e permitidos, como dos pais, e daqueles que são abusivos e problemáticos. Além disso, o livro também traz atividades interativas para que as próprias crianças consigam expressar suas emoções ao entrarem em contato com o assunto.

5. Mantenha as câmeras tampadas sempre que possível

Por fim, mas não menos importante, é preciso de proteção em relação aos acessórios dos meios de comunicação. Com os estudos e situações reais que já aconteceram e foram divulgadas, sabe-se da capacidade de captação de imagens por meio das câmeras dos aparelhos eletrônicos quando eles são invadidos.

Pensando nisso, o último alerta feito pela presidente da Childhood Brasil é para que os pais coloquem um adesivo ou outro tipo de proteção para mantê-las tampadas sempre que não estiverem em uso.

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