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Mau comportamento infantil pode ter origem no útero

Estudo indica que o ambiente, mesmo durante a gestação, influencia em genes que mais tarde despertam condutas como agressividade e violência.

Por Chloé Pinheiro
26 jun 2017, 13h43

A relação entre os genes e problemas comportamentais é conhecida, mas ainda está sendo desvendada pela ciência. Pois uma nova pesquisa avançou algumas casas nesse sentido. Ao avaliar dados de mais de 14 mil famílias, uma equipe da Universidade King’s College de Londres, na Inglaterra, identificou mudanças genéticas parecidas em crianças que brigavam, mentiam e roubavam.

Para chegar a essa conclusão, o time cruzou dados sobre a metilação do DNA – um processo que ajuda a moldar a maneira como nossos genes se expressam – e os incidentes negativos em crianças com idades entre 4 e 13 anos. Também foram considerados os fatores ambientais conhecidos por atrapalhar o desenvolvimento dos bebês, como fumar na gravidez, exposição constante ao estresse e dieta da gestante.

No grupo que dava mais trabalho, houve mudanças significativas em sete pontos do DNA durante o nascimento. Não por coincidência, as alterações ocorreram principalmente em genes relacionados a esses fatores de risco. “É como se eles fossem ligados e desligados, e as evidências sugerem que isso pode ocorrer como uma resposta ao ambiente ainda durante a gravidez”, explica Charlotte Cecil, psicóloga do King’s College e autora do trabalho.

“Outros estudos já tinham mostrado que as experiências da mãe durante a gestação influenciam na metilação do DNA no bebê, o que pode moldar a saúde e o comportamento da criança no futuro”, conta Charlotte. O trabalho ajuda a explicar porque esses fatores impactam a vida do futuro adulto em um nível bem mais microscópico do que imaginamos.

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Por exemplo, um dos genes que mais sofreu alterações nesse processo foi o MGLL, que atua no sistema de recompensa, desenvolvimento de vícios e percepção da dor. E os desvios de conduta frequentemente são acompanhados de abuso de substâncias, assim como pessoas com comportamento antissocial frequentemente apresentam maior tolerância à dor – o que abre as portas para outros perigos.

O próximo passo é saber se essas alterações genéticas negativas são desfeitas em algum momento. “O ambiente pós-nascimento também é fundamental no processo de formar o comportamento, então precisaremos de mais pesquisas para examinar se experiências positivas na infância ajudam a regular novamente esses genes”, finaliza Charlotte.

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