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Fórmulas infantis: quando e como elas devem ser usadas

O leite materno é perfeito! Mas na impossibilidade de um bebê recebê-lo, o mais indicado é substituí-lo por fórmulas lácteas e não leite de vaca, que pode prejudicar o desenvolvimento infantil.

Por Mônica Brandão (colaboradora)
Atualizado em 26 out 2016, 22h57 - Publicado em 22 Maio 2015, 11h03

Amamentar é a melhor atitude que você pode ter para o seu bebê. O leite materno é insubstituível sob todos os pontos de vista: 

  • Sua composição oferece tudo o que a criança precisa para se desenvolver, em quantidades e variedades perfeitas, sem deixar faltar nenhum nutriente. Até a água está presente para garantir a hidratação;
  • As crianças alimentadas ao seio são menos obesas e apresentam uma frequência menor de processos alérgicos nos primeiros meses de vida;
  • Quando a amamentação ocorre da maneira correta, fortalece a musculatura da face, boca e língua, prevenindo problemas futuros de fala e oclusão de dentes;
  • Aleitamento traz benefícios também de ordem econômica já que é de graça e pode ser transportado para qualquer lugar: basta a mãe estar junto ao filho;
  • E um dos fatores mais importantes: o ato de amamentar fortalece o vínculo afetivo entre mãe e filho de uma forma que nada mais consegue. 

Por essas razões, a Sociedade Brasileira de Pediatria, seguindo as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda o aleitamento até os dois anos, sendo exclusivo até os seis meses de idade. Vale lembrar que quando há obstáculos na amamentação, a mulher pode pedir ajuda na própria maternidade ou em centros especializados para aprender a forma correta de amamentar e cuidar das mamas ou até mesmo fazer uma relactação – método que estimula a produção do leite materno. Pode até mesmo contar com bancos de leite, onde seu bebê pode receber leite materno doado por outras mulheres.
 
Na impossibilidade total da criança receber leite materno, jamais deve ser oferecido o leite de vaca, que pode prejudicar o desenvolvimento da criança – leia mais no final da reportagem. “O mais indicado é usar um substituto que não interfira de modo negativo em seu desenvolvimento. O leite materno não pode ser copiado e o de vaca pode acarretar em problemas e alergias para o bebê”, explica Ary Lopes Cardoso, pediatra e nutrólogo, responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Existem fórmulas infantis no mercad, que não possuem as vantagens do leite materno, mas, apesar de serem feitos a partir do leite de vaca, são modificados para facilitar a digestão do bebê e enriquecidos para oferecer os nutrientes que ele precisa a cada fase. Conversmos com especialistas para tirar as principais dúvidas no uso de fórmulas infantis.

Quais os tipos de fórmulas que existem?

As fórmulas são diferentes entre si para atender as exigências nutricionais de cada fase do desenvolvimento de um bebê ou necessidades especiais. Por isso, seu uso deve ser sempre recomendado por um pediatra ou nutricionista:
 
Para prematuros – esse tipo de fórmula possui  uma composição diferenciada para oferecer os nutrientes que um bebê prematuro precisa, além de ser modificado para facilitar a digestão. Geralmente possui mais proteínas, misturas e gorduras bem balanceadas e adição de ácidos graxos específicos, essenciais para o desenvolvimento cerebral, visual e psicomotor. Vale lembrar que muitas vezes esse tipo de fórmula é apenas um complemento, já que os especialistas no geral recomendam que o bebê prematuro seja alimentado com leite materno, recebendo principalmente o colostro.
 
Fase 1 – chamadas de fórmulas de partida atendem as necessidades nutricionais de crianças saudáveis até seis meses de idade. A lactose é o principal carboidrato e são acrescidas de amido, sacarose e maltodextrina. “O teor protéico é maior que o do leite materno e as gorduras podem ser acrescidas de óleos vegetais com a finalidade de melhorar a digestibilidade. A composição dos ácidos graxos de cadeia longa é modificada para se chegar num ideal para o desenvolvimento do sistema nervoso central. Estas formulações têm também um teor maior de micronutrientes em relação ao leite materno, como ferro e aminoácidos”, diz João Coriolano Rego Barros, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria.
 
Fase 2 – são as fórmulas para o segundo semestre de vida da criança e o diferencial é um maior teor de ferro, já que a quantidade de proteínas é semelhante aos leites do primeiro semestre.
 
AR ou Antirrefluxo – esse leite um pouco mais engrossado foi criado exclusivamente para bebês que apresentam regurgitação – o refluxo gastroesofáfico (RGE).  Ele é similar às fórmulas da fase 1 mas, além dos carboidratos habituais, possui amido de arroz ou milho pré gelatinizado que se espessa em contato com a secreção gástrica, minimizando o refluxo.
 
Fórmulas sem lactose – criada para crianças com intolerância a esse carboidrato. É recomendado para bebês que passaram por alguma patologia que teve como sintoma uma diarreia persistente, que acaba por alterar a flora intestinal e diminuir a produção da enzima que digere a lactose, a lactase. Esse acontecimento chamasse intolerância à lactose é passageiro e o bebê pode depois, com a recomendação do pediatra, voltar para o leite normal.
 
HA ou Fórmulas Hipoalergênicas – fórmula infantil à base de proteína do soro do leite parcialmente hidrolisada, o que confere uma característica hipoalergênica ao leite, sendo recomendada para crianças com histórico familiar de alergia ao leite de vaca (APLV).
 
Fórmulas à base de soja – podem ser um substituto para crianças com mais de seis meses que são alérgicas a proteína do leite de vaca, com intolerância a lactose ou para famílias que optam por uma alimentação vegetariana. Estas fórmulas são feitas à base de proteína isolada de soja, isentas de lactose e sacarose. Geralmente contém mais vitaminas e minerais e são suplementadas com aminoácidos.
 
Fórmulas diferenciadas – de tempos em tempos existem lançamentos de fórmulas criadas para situações específicas como por exemplo, com mais fibras para crianças com constipação intestinal ou com ingredientes específicos e levemente hidrolisados para bebês com cólicas. Mas apenas um pediatra ou nutricionista pode recomendar seu uso.
 
O que significa uma fórmula infantil ser fortificada ou apresentar algum tipo de vantagem em seu rótulo?
Trata-se de uma estratégia de marketing para chamar a atenção para o produto. “Todas as fórmulas são enriquecidas, já que são manipuladas, geralmente, a  partir do leite de vaca. E depois disso são fortificadas com nutrientes”, explica Karine Nunes Costa Durães, nutricionista  especializada em Nutrição Clínica em Pediatria pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.  Existem órgãos de saúde que determinam a quantidade mínima de introdução dos nutrientes nos produtos, por isso todas as fórmulas do mercado, independentemente da marca, atendem as necessidades das crianças. A quantidade de determinados nutrientes se modula para um pouco mais ou um pouco menos para atender algumas necessidades específicas. “O prébio, por exemplo, são prebióticos adicionados para melhorar o funcionamento intestinal e modular a imunidade da criança. A maioria das fórmulas do mercado tem  prebióticos mesmo que não chame atenção para isso no rótulo”, diz Karine.

Dúvidas frequentes

Qual o problema se os pais errarem e oferecem, por exemplo, uma fórmula da fase 2 para um bebê que ainda está na fase 1?
O leite de cada fase recebe os tipos e quantidade de nutrientes específicos para aquele momento do desenvolvimento do bebê. Quando ocorre esse erro, provavelmente as necessidades nutricionais da criança não será atingida, o que pode ser prejudicial já que essa é a única alimentação do bebê até os seis meses quando a mãe não consegue amamentar por algum motivo.
 
É importante seguir o modo de fazer recomendado nos rótulos? Qual o problema de colocar mais ou menos leite em pó na preparação?
Sim, é importantíssimo seguir as recomendações de como preparar o leite. “As fórmulas são criadas com as proporções exatas de componentes para as necessidades nutricionais daquela criança para a qual foi prescrita”, diz o pediatra João Coriolano.  Quando menos leite em pó é colocado, a criança não consome as calorias necessárias para o seu desenvolvimento nem a quantidade de nutrientes que precisa. No caso contrário, quando se coloca mais leite em pó, além do risco de desidratação ou de constipação por conta da diminuição de água, ela vai ingerir mais nutrientes e calorias do que o necessário é corre o risco de ganhar muito mais peso do que o necessário.
 
Qual o perigo de “engrossar” o leite, como muitos adultos ainda fazem?
Essa é uma medida desnecessária já que as fórmulas lácteas são feitas para oferecer as necessidades nutricionais para o bom desenvolvimento do bebê. O perigo de engrossar o leite é contribuir para a obesidade futura.  “Engrossando a fórmula modificamos a estrutura da dieta da criança, que acaba consumindo mais carboidrato do que deveria. Acontece um desequilíbrio”, diz Karine. A nutricionista também alerta para um outro perigo: depois dos 6 meses, com a mamadeira mais calórica, sobra pouco apetite para as papinhas e comidas e isso dificulta o desenvolvimento alimentar da criança que passa a não comer.
 
Por que um bebê alimentado por fórmula precisa de água enquanto um bebê que mama no peito não precisa?
O leite materno é perfeito! Ele tem sua composição mudada durante a mamada. Nos primeiros minutos o leite é mais rico em água, justamente para matar a sede do bebê. O mesmo não acontece com as fórmulas e por isso crianças alimentadas dessa forma precisam beber água.
 
Bebês não devem consumir leite de vaca
O leite de vaca integral não é recomendado para crianças menores de um ano de idade por ser muito diferente do leite materno e não atender as necessidades de um bebê. Na sua composição possui proteínas de estrutura grande e alergênicas cujo consumo aumenta o risco do bebê ter anemia. Além disso, o leite de vaca não tem, ou tem de forma insuficiente, uma serie de nutrientes importantes para o desenvolvimento físico e mental da criança, como o ferro, zinco, selênio, vitamina C, vitamina D, acidos graxos essenciais como o ômega 3. E ainda tem baixa concentração de gordura e carboidrato. Também possui uma grande quantidade de sódio e proteína, o que coloca a criança em risco para o desenvolvimento de hipertensão na vida adulta.

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Fontes: 

Ary Lopes Cardoso, pediatra e nutrólogo, responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;  João Coriolano Rego Barros, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria; Karine Nunes Costa Durães, nutricionista  especializada em Nutrição Clínica em Pediatria pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

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